3:38 PM Carl Zeiss prioriza qualidade de imagem com novas lentes Otus | |
![]() Todo produto é o resultado de uma série de comprometimentos entre qualidade, conveniência e custo. O que acontece se você ignora esses dois últimos em nome do primeiro? Algo como a nova linha de lentes da Carl Zeiss, a Otus. A primeira nova objetiva da empresa é a Otus 1,4/55, uma lente prime para câmeras full frame que custa exorbitantes 4,000 dólares. Não é apenas o preço da Otus que excede outras lentes. Com 14,1 cm de largura e quase 1 kg de peso, ela é consideravelmente maior e mais pesada do outras lentes similares. Além disso, abertura de f1,4 em 50 mm de distância focal é uma especificação excelente, mas nada extraordinária, especialmente quando se considera que a Otus não possui um motor de autofoco interno. A própria Zeiss fabrica uma lente 50 mm f1,4 para câmeras da Sony que custa cerca de 1,500 dólares (o que também prova que não é o peso da marca que está puxando o preço da Otus para cima). O que aconteceu, então? Os alemães enlouqueceram? É claro que não. Em produtos desse nível, as especificações básicas dizem muito pouco sobre os recursos reais. A inovação (e o custo elevado) da Otus está em seu método de construção. Em vez de utilizar o convencional design Planar, a Zeiss optou pelo Distagon, que costuma ser utilizado em lentes grande angulares de distância focal curta. Objetivas Planar possuem um design muito eficiente e compacto, com 4 grupos simétricos de lentes. Contudo, essa simetria também introduz problemas: se o sistema óptico é projetado para corrigir distorções nos raios de luz que passam pelo centro das lentes, a periferia não recebe o mesmo tratamento e vice-versa. Da mesma forma, o design Planar precisa escolher entre priorizar a correção de aberrações espaciais ou cromáticas porque o mesmo elemento óptico é responsável por ambas. ![]() As origens do esquema de construção Distagon estão em um velho problema cinematográfico, quando Hollywood estava começando a filmar em cor com as máquinas Technicolor. Essas filmadoras utilizavam um separador de raios volumoso entre a lente e o filme, o que impedia o uso de uma objetiva de distância focal curta e limitava as opções de enquadramento do diretor. O esquema de construção Distagon foi criado com esse problema em mente: seu objetivo era reunir um conjunto assimétrico de lentes para aumentar a distância entre o plano de imagem e a última lente da objetiva, abrindo mais espaço para outros componentes entre os dois (vale notar que Pierre Angénieux desenvolveu um sistema similar ao mesmo tempo que os engenheiros da Zeiss). ![]() Eventualmente, outras vantagens do Distagon se tornaram evidentes para o mundo da fotografia, incluindo a digital. Quando uma lente de distância focal muito curta é posicionada logo ao lado do sensor, alguns raios de luz podem atingir a superfície sensível em um ângulo oblíquo, o que causa distorções e pode até escurecer os cantos da foto. Lentes Distagon não sofrem tanto com esse problema. Contudo, a Otus 1,4/55 não é uma grande angular. A ideia da Zeiss ao utilizar o Distagon em uma objetiva de distância focal longa é se aproveitar do conjunto mais complexo de lentes que ele oferece para corrigir vários tipos de aberrações que costumam ser ampliadas por aberturas amplas (e f1,4 é muito amplo). A Zeiss chegou ao ponto de introduzir mais lentes no design da Otus do que a prescrição do Distagon original para torna-la mais versátil. São 12 elementos em 10 grupos que amenizam aberrações cromáticas, coma, curvatura de campo e outros defeitos que permeiam toda lente. ![]() O objetivo principal da Otus, portanto, é manter um grau consistente de qualidade de imagem desde o centro até o a periferia das fotos. Os testes da própria empresa mostram que o novo esquema de construção traz benefícios impressionantes. Nos gráficos abaixo, que ilustram a função de transferência óptica da Otus comparada a uma lente Planar, a nova objetiva da Zeiss quase não perde contraste do centro para a periferia em fotos de resolução menor (10 LP/mm – 10 pares de linhas por milímetro). Mesmo nas resoluções mais altas, o nível de contraste mantém-se bem consistente. Da mesma forma, as diferenças entre o constaste medido em planos diferentes (representados pelas linhas sólidas e pelas linhas intermitentes) são pequenas em comparação com a lente Planar. ![]() Obviamente, a fonte é enviesada. É difícil dizer quanto dessa sopa de números se traduzirá em benefícios perceptíveis no mundo real. Mas a Otus não deixa de parecer promissora. Se ela seguir o exemplo do animal que lhe dá nome, não precisamos nos preocupar. Otus é o nome de um gênero de corujas com olhos enormes: ![]() | |
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